A Origem da Internet: De Projeto Militar à Rede que Conecta a Humanidade

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Hoje você usa a internet para trabalhar, estudar, assistir vídeos, pedir comida, conhecer pessoas, comprar e vender… Mas a rede que move o mundo nasceu de um contexto completamente diferente — e muito mais sombrio: o medo de uma guerra nuclear.

A história da internet começa nos bastidores da Guerra Fria, quando os Estados Unidos e a União Soviética disputavam não só influência política, mas supremacia tecnológica. O que era, inicialmente, uma tentativa de proteger as comunicações militares acabou se tornando a base da maior revolução informacional da história humana.

Neste artigo, você vai entender como uma ideia acadêmica se tornou uma infraestrutura global que transformou o planeta — e por que a internet continua sendo uma força de inovação sem precedentes.


Sputnik, medo e a criação da DARPA

Em 1957, o mundo assistiu surpreso ao lançamento do Sputnik 1, o primeiro satélite artificial da história, enviado ao espaço pela União Soviética. O evento abalou profundamente os Estados Unidos, que viram nisso uma ameaça: se os soviéticos podiam colocar satélites em órbita, também poderiam lançar mísseis balísticos intercontinentais.

A resposta americana foi estratégica. Em 1958, o governo criou a DARPA (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa), com a missão de garantir que os EUA nunca mais fossem surpreendidos tecnologicamente. Um dos maiores temores era a destruição da infraestrutura de comunicação em caso de ataque nuclear.

A solução que surgiu desse contexto foi radical para a época: criar uma rede descentralizada, onde os dados pudessem continuar circulando mesmo que partes da rede fossem destruídas.


O nascimento da comutação de pacotes

Em 1961, o engenheiro Leonard Kleinrock, ainda como doutorando no MIT, propôs um conceito que revolucionaria a comunicação: a comutação de pacotes. Diferente das ligações telefônicas da época, que dependiam de conexões contínuas, a comutação permitia que os dados fossem quebrados em pequenos blocos (pacotes), enviados por rotas diferentes e remontados no destino.

Paralelamente, Paul Baran, na RAND Corporation, desenvolveu um sistema de comunicação tolerante a falhas, também baseado em redes distribuídas. Embora essas pesquisas tenham ocorrido de forma separada, acabaram convergindo em um mesmo propósito: criar um sistema de comunicação resiliente, flexível e descentralizado.


ARPANET: a primeira rede

O primeiro grande passo técnico veio em 1965, quando Lawrence Roberts conseguiu conectar dois computadores — um no MIT e outro na Califórnia — por uma linha telefônica. A experiência foi o embrião da futura internet.

Em 1966, Roberts se juntou à DARPA e liderou o projeto ARPANET, a primeira rede de computadores com base na comutação de pacotes. Em 29 de outubro de 1969, a rede entrou oficialmente em operação: um computador da UCLA enviou uma mensagem para o Stanford Research Institute. A mensagem? Tentaram enviar “login”, mas o sistema travou após o “l”. Assim, a primeira comunicação da internet foi, literalmente, uma letra: “L”.

Pouco tempo depois, surgiram ferramentas como o e-mail, que deram à ARPANET novas possibilidades de comunicação e colaboração científica.


A criação do TCP/IP e o nascimento da internet moderna

No início, a ARPANET era limitada ao seu próprio protocolo de comunicação, o NCP, que não permitia interconexão com outras redes. Em 1974, Vint Cerf e Bob Kahn propuseram uma nova arquitetura baseada em dois protocolos: o TCP (Transmission Control Protocol) e o IP (Internet Protocol).

Esses protocolos permitiam que redes diferentes se comunicassem entre si, criando a “rede das redes” — ou seja, a internet. Em 1º de janeiro de 1983, a ARPANET migrou oficialmente para o TCP/IP, marcando o nascimento da internet moderna.


A World Wide Web: tornando a internet visual, acessível e popular

Até o final dos anos 80, a internet era usada principalmente por universidades, militares e pesquisadores. Isso mudou em 1989, quando Tim Berners-Lee, cientista do CERN, propôs um sistema de documentos interconectados que podiam ser acessados por meio de hiperlinks: nascia a World Wide Web.

Em 1991, a web foi aberta ao público. Em 1993, surgiu o Mosaic, o primeiro navegador com interface gráfica amigável — um divisor de águas. O número de sites explodiu: em 1997, já existiam mais de 200 mil páginas ativas.


O boom da internet no Brasil

No Brasil, a internet chegou pelas universidades no final dos anos 80. A Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) foi fundada em 1989 para expandir o acesso acadêmico. Em 1995, a internet comercial foi oficialmente liberada no país.

A popularização veio com os provedores de acesso discado e a expansão das redes locais. Em 1999, com a chegada da banda larga, a internet começou a entrar nas casas brasileiras de forma definitiva.


De ferramenta militar a infraestrutura global

O que começou como um sistema para resistir a ataques nucleares se tornou a espinha dorsal de toda a sociedade digital: economia, educação, comunicação, política, entretenimento — tudo passou a depender da internet.

  • Google (1998) revolucionou o acesso à informação.

  • Facebook, Twitter, Instagram transformaram relações sociais e dinâmicas políticas.

  • YouTube tornou-se um novo canal global de conteúdo.

  • A Internet 2.0 deu ao usuário comum o papel de criador.

E a evolução continua: estamos entrando na era da Web 3.0, inteligência artificial integrada, realidade aumentada, computação quântica e metaversos.


Internet das Coisas, 5G e o futuro hiperconectado

Hoje, a internet não conecta só pessoas, mas coisas. Geladeiras, carros, sensores, câmeras, semáforos… Tudo pode estar online. Esse é o conceito da Internet das Coisas (IoT), potencializado pelo 5G, que permite conexões em tempo real, com baixíssima latência e altíssima velocidade.

Com isso, surgem cidades inteligentes, indústrias autônomas, cirurgias remotas, carros que se comunicam entre si. A internet deixa de ser apenas uma rede de informação e se torna uma camada invisível que coordena o mundo físico.


O impacto da pandemia e a internet como necessidade básica

Durante a pandemia de COVID-19, ficou claro que a internet é infraestrutura essencial. Foi ela que permitiu a continuidade de atividades básicas como educação, trabalho, acesso à saúde, ao governo e até ao convívio social.

Hoje, a ONU já considera o acesso à internet um direito humano. E com razão: estar desconectado significa, muitas vezes, estar excluído da sociedade digital.


Conclusão: uma revolução feita por pessoas, para pessoas

A internet não foi criada por uma única empresa, governo ou gênio solitário. Ela nasceu da colaboração entre militares, acadêmicos, engenheiros e visionários, em um esforço distribuído que atravessou décadas e continentes.

Ela é prova viva de que a inovação mais poderosa surge quando setores diferentes se unem em torno de um problema comum. E a cada nova fase — web 1.0, 2.0, 3.0, IA, IoT, metaverso — esse espírito de reinvenção continua.

Aquela letra “L” enviada em 1969 era só o começo.